Das refelxões imagéticas (II)
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Rio, 27 de dezembro de 1947
Relações possíveis da foto-poema acima :
O ‘boneco azul’ não tem ao certo uma identidade: seria um gato, um cão ou, quem sabe, um rato? Não é, por certo, um herói! Nenhum ‘super-homem’, ou ‘Super-Bicho’ (está parecendo mais um ‘Infra-Bicho’)
Seus olhos demonstram confusão, alinearidade (círculo esquerdo contrapondo-se a quadrado direito), mas, ao mesmo tempo, pode querer indicar que sua visão de mundo é complexa: cada olho vê o que quer, vê diferente...
Sua voz foi calada, costurada, pois, cúmulo, há falta até de lábios pra expressar-se.
Esse ‘bicho azul’ não é um homem! Mas foi feito por mãos humanas: trata-se de um trabalho feito em cooperativas por moradores de rua. Esses sim que, ainda hoje, quando acham alguma coisa pra comer, muitas vezes, não examinam nem cheiram: engolem com voracidade.
Contudo, há ilhas de resgate e socialização, posto que agora, nesse caso do nosso “Super-Infra-Bicho”, o ‘bicho’ não mais um homem, mas uma representação simbólica, revolucionária e silenciosa, de mãos e mentes que não mais mendigam e sim trabalham e criam realidades para um mundo melhor.
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